segunda-feira, 1 de abril de 2013

As tabernas de Lapas


Praça dos Homens e Taberna do Piu
No concelho de Torres Novas durante os séculos XIX e XX, havia uma grande riqueza em estabelecimentos de bebidas, as famosas tabernas ou tascas, que caíram em desuso e que hoje em dia são raras. As tabernas eram locais onde se vendia bebidas alcoólicas, essencialmente vinho, aguardente e água-pé, e não raras as vezes se vendia alguns petiscos. Normalmente, os homens, depois de um dia árduo de trabalho no campo ou na fábrica, se reuniam para conviver, transformando-se no centro da vida social das pequenas localidades. O problema é que o vinho nunca foi bom conselheiro e a taberna muitas vezes tornou-se lugar de má fama. Com o surgir dos cafés e com várias modificações na sociedade e na economia, as tabernas que não acompanharam a evolução praticamente desapareceram.
 
No livro “As ultimas tabernas de Torres Novas”, mostra em termos gráficos a evolução das tabernas no concelho desde 1852 a 1970. Curiosamente, entre 1937 e 1970 corresponde a um período de ouro destes estabelecimentos no concelho, com uma média superior a 200 tabernas abertas ao público por ano.

Na tabela, apresentamos a evolução do número de tabernas em Lapas entre 1852 e 1970, tendo como fonte o livro anteriormente citado:
Ano
Nº de Tabernas
1852 a 1863
0
1864
1
1865 a 1869
0
1870
5
1871
4
1872
3
1873
4
1907
5
1908
3
1909 a 1912
0
1913
1
1919
0
1937
6
1940
5
1952
4
1960
5
1970
6

Para uma breve inventariação das tabernas de Lapas recorremos a entrevistas com pessoas conhecedoras do passado, nomeadamente, José Rosca, 79 anos antigo taberneiro, Mário Coelho Pereira 82 anos, José Conceição Marcos, 82 anos, ambos habitantes de Lapas. Entre outras conversas informais.

Sem qualquer ordem cronológica procuramos apenas conhecer o nome das tabernas, quem trabalhava nelas, a localização e algumas histórias curiosas.

A Taberna do Rosca nas proximidades do Beco da Praça dos Homens, foi um estabelecimento bastante antigo que passou pelo menos por 3 gerações. Além de taberna, teve uma mercearia, pensão (só para refeições) e barbearia. Segundo o último dono, Zé Rosca de 79 anos, tem o estabelecimento há mais de 30 anos, foi o primeiro a ter uma máquina de café e televisão. A Taberna do Piu, também no Beco da Praça dos Homens, também foi gerida por Zé Rosca, mas antes dele fora de João Correia e de Hermelindo Puí. Ainda nas proximidade da praça, a Taberna do Mário Farragoso (?) que tinha também uma barbearia onde trabalhava o filho o “Gasosa”. Curiosamente, todas estavam muito próximas da Praça dos Homens, que era o local onde os homens se reuniam pela manhã à procura de trabalho agrícola diário. Todos os dias os encarregados agrícolas escolhiam os homens mais aptos para o trabalho, que como forma de pagamento recebiam a jorna. Em muitos locais no Ribatejo este tipo de praça era conhecida pelas Praça da Jorna.

Edifício moderno da Taberna do Aspirante
A Taberna do Aspirante era de um antigo agricultor de seu nome José Pereira Pera, ficava situada num edifício entre as ruas Frei Lourenço Craveiro e da SMUT. No mesmo edifício encontrava-se a Taberna do Índio, sabe-se que foi gerida por um músico António Coelho, que mais tarde “foi atrás da música do tacho[1]” para trabalhar na fábrica Fiação e Tecidos em Torres Novas. Atualmente, o edifício foi reconstruido e pertence à Junta de Freguesia de Lapas, servindo como pólo cultural, tem uma biblioteca e um pequeno anfiteatro multifunções. A SMUT também tinha a Conquilha, uma gruta artificial, em tudo idêntica às Grutas de Lapas, que abria aos fins-de-semana e possuía um pequeno espaço ao ar livre onde se podia jogar vários jogos tradicionais como a malha ou chinquilho.

Taberna do Eduardo Nuno e Zé Maria (ao cimo da ladeira)
A Taberna do António da Carolina e mais tarde conhecida como a Taberna do Zé Maria estava situada na rua da Ladeira do Carreiro (para quem vai adescer, a taberna ficava no lado direito). A taberna era conhecida por estar cheia de trabalhadores dos “Vieiras” (também conhecido pelos Velhos). Um pouco mais abaixo, na Rua António Borga (tendo a ponte pedonal como referência), situava-se a Taberna do Eduardo Nuno que também era conhecida por ter sempre muitos trabalhadores dos “Vieiras”, principalmente, às horas de almoço. Zé Rosca conta que, Eduardo Nuno aborreceu-se por tabernas e fez uma jura que “da Lapas para o norte, nunca mais entrava numa taberna nenhuma… e não entrou”. Talvez por isso, a taberna teve pouco tempo aberta. Também vida curta teve a Taberna do Joaquim Ruda, que se situava na Travessa da Queimada, parece que o dono tinha pouco jeito para o negócio, tendo a fama de a cada dois copos vendidos, bebia um.

A Taberna do Manuel Paiva ficava situada na Alto de Nossa Senhora de Vitória curiosamente no edifício décadas antes tinha sido a Estação da Bela Vista. A rapaziada gostava de visitar a taberna que tinha sempre musica que saía de uma espécie de gramofone (carece de fonte).

Edifício atual da antiga Taberna do Carricha
A Taberna do Carricha (?), na rua Luís de Camões, o dono era mestre da banda, tinha também uma mercearia que sobreviveu alguns anos após o desaparecimento da taberna. Um pouco mais à frente, na rua José Mota e Silva, onde se encontra atualmente uma mercearia, a Taberna do Palhaço de João Mota e Silva que tinha também uma barbearia e mercearia. O local era conhecido como um posto de primeiro socorro não oficial, dado que dono fora enfermeiro na tropa. Mais tarde, mudou de dono e ficou conhecida com a Taberna do Amândio, o estabelecimento possuia dimensões muito reduzidas, porém tinha a particularidade de ter uma pequena gruta escavada no tufo, tal como as Grutas de Lapas. A mercearia ainda faz parte da família do Amândio.


A Taberna do Romão da Guia situada perto do Adro da igreja, o dono era sacristão na igreja. A Taberna do Rentini (?) ficava no atual edifício da associação de Caça.
Atual edifício da Taberna do Amândio
Das tabernas ter termo gerais quase todas ficaram como paradas no tempo e não tiveram capacidade de se adaptar ao mundo moderno. Daí a o seu desaparecimento, quase por completo, de um elemento patrimonial que por boas, e por vezes más razões fazem parte da nossa identidade cultural. 



Fontes:
LOPES, João Carlos, (1997), As últimas tabernas de Torres Novas, Câmara Municipal de Torres Novas, Torres Novas
Entrevistas áudio e conversas informais com: José Rosca, 79 anos antigo taberneiro, Mário Coelho Pereira 82 anos, José Conceição Marcos, 82 anos, ambos habitantes de Lapas. Entre outras conversas informais.


[1] É uma expressão popular. Dado que Banda Operária Torrejana tinha uma grande ligação à Fábrica Fiação e Tecidos, normalmente, quando alguém queria ir trabalhar para a fábrica, ia primeiro para músico da banda. Era chamado “música do tacho” ou “ir atrás do tacho”…

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