sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Necrópole Neólitica de Lapas

Durante as escavações para construção de um edifício, entre a Ladeira do Carreiro e atual Fábrica do Álcool, foram encontrados alguns artefactos arqueológicos. Decorria o ano de 1935, uma equipa arqueológica, liderada por Manuel Heleno, foi chamada ao local para estudar os achados. O que encontraram foi dezenas de utensílios como vasos em cerâmica, lâminas de corte, objetos de adorno e machados de pedra polida, objetos mágicos e religiosos (placas de xisto com desenhos geométricos em relevo). Pelas características do achado, ao local, foi chamado Necrópole Neolítica de Lapas. Uma necrópole é um cemitério, Neolítico é uma face de transição entre a Idade da Pedra e a Idade do Bronze, que vai por volta dos anos 10.000 a.C. até aos 3.000 a.C. Durante este período de tempo, ocorreu a Revolução Neolítica que tinha o seu epicentro no Oriente Médio (Turquia, Síria, Iraque, Jordânia, Egipto), na qual, o Homem aprende a domesticar animais, descobre a agricultura e a cerâmica. Com isso, deixa de ser nómada/recolector e passa a sedentário, sem a necessidade de se deslocar de terra em terra, cria-se as condições para o aparecimento das primeiras povoações. Por exemplo, Çatal Huyuk, Turquia é considerada a cidade mais antiga, com uma economia baseada na agricultura chegou a ter milhares de habitantes.

É difícil imaginar este local a alguns milenios a trás...
Claro que não se pode comparar Çatal Huyuk, com Lapas neolítica, mas será que poderia haver no local já um pequeno povoado? Na época, o local da necrópole poderia ser um local santo? A importância da necrópole pode ainda ser observada no Museu Municipal Carlos Reis, em Torres Novas, no espaço reservado ao Neolítico, os artefactos encontrados na escavação têm grande destaque. Na apresentação escrita do espaço destaca-se a importância da necrópole de Lapas “…onde se recuperou um importante espólio…” Na vitrina sobre o Neolítico podemos observar uma grande parte do espólio deixado pelos nossos antepassados. Na revista “Nova Augusta” (Biblioteca de Torres Novas), existe igualmente um artigo sobre a necrópole, onde se pode conhecer mais detalhes sobre as escavações, assim como pode-se ver registos fotográficos dos anos 30, que documentam a escavação.

Após a conclusão da escavação arqueológica, no terreno foi construído os edifícios que estavam para aí destinados. Desta forma, no local, deixou de existir qualquer tipo de registo. O espólio foi aguardado no Museu Municipal de Torres Novas e no Museu Nacional de Arqueologia. Os artigos escritos foram registados na época em jornais locais (anos 30) e em artigos científicos. Em Lapas pouco se fez para valorizar a nossa identidade cultural, com o passar dos anos, a Necrópole Neolítica que pode ser a génese do povoado,  foi esquecida.

Bibliografia:
CARREIRA, Júlio M. Roque, artigo: Necrópole Megalítica das Lapas, Nova Augusta nº 10, Outubro de 1996, Torres Novas
O Canto de Avita, Museu Municipal de Torres Novas, Núcleo de Museografia
Carta Arqueológica do Concelho de Torres Novas
Wikipédia- Neolítico; Çatal Huyuk; Revolução Neolítica

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

As Lapas

Localizada a cerca de 2 Km a noroeste da cidade de Torres Novas, a aldeia cresceu sobe a pequena elevação serpenteada pelo rio Almonda. No topo do monte, situa-se a Igreja, por debaixo da igreja, existe as tão enigmáticas grutas. Acredito que, as grutas são mais antigas que a povoação, pelo menos, diz-se que foram encontradas artefactos do homem neolítico. O historiador torrejano, Artur Gonçalves, menciona que nas grutas, no ano de 411, foi escondida uma imagem de “Nossa Senhora da Graça”. E pelas características do terreno e proximidade do rio, o pequeno monte seria um bom local para construir um castro. Nas proximidades do monte, foi encontrada uma necrópole megalítica. Estes dados atentam que a presença humana é muito antiga, talvez de 2000 a.C. Bertino C. Martins, considera que no século XVI, de todas as povoações rurais da “vila de Torres Novas”, as Lapas era a que tinha o maior aglomerado populacional.

Séculos e milénios de história de um lugar esquecido. Esquecido também parecem as grutas, feitas de tufo. De tufo são também as paredes das casas mais antigas da povoação. E também em Torres Novas, existe ainda imensos edifícios feitos desse material. O bairro das “Tufeiras”, deve seu nome às minas a céu aberto, de onde era talhado as pedras de tufo.

Interior das grutas
Será que podemos supor que as grutas foram minas de tufo? Foram abertas com alguma finalidade, existe marcas de “picaretas” nas paredes. Ao contrário das “Tufeiras”, aqui não se poderia criar uma mina a céu aberto, porque por cima havia as habitações e a Igreja.

Há outro aspeto a curioso a salientar, no passado dizia-se que “nas Lapas, os vivos andam por debaixo dos mortos”, ora antes de existir o Cemitério, os mortos eram enterrados na igreja, ou nos terrenos em redor. Mas por debaixo do Adro e da Igreja encontram-se as grutas.

Um exercício interessante que se pode fazer, depois de visitar as grutas é caminhar no Adro da Igreja e tentar imaginar, onde se encontram as galerias por debaixo dos nossos pés.

Bibliografia:
GONÇALVES, Artur, (1937), Memória de Torres Novas, Companhia Editora do Minho, Barcelos.
MANTINS, Bertino Coelho, (1991), Lapas, História e tradições, Câmara Municipal de Torres Novas