sábado, 6 de abril de 2013

Juntas de bois



Boieiro de Lapas com  sua Junta a lavar com um charrueco
Numa época em que não havia tratores e outros equipamentos agrícolas mecanizados, eram os bois que ajudavam nas lides do campo. Chamava-se Juntas de bois, ao conjunto de dois bois que puxavam os charruecos para lavrar, os carros de bois para transporte, a grade para gradar.  Ainda havia a charrua servia para lavrar os campos no Verão que tinha que ser puxada por duas juntas (quatro bois), para semear o milho quando a terra estava mais dura. O charrueco, mais pequeno que a charrua, lavrava os terrenos para depois fazer sementeiras de favas, trigo e cevada. Segundo, informação do Museu Agrícola de Riachos, os homens contratados para lidar com os bois eram os boieiros, os pequenos e médios agricultores que possuíam juntas de bois eram os cingeleiros. Nas Lapas, os grandes proprietários agrícolas eram os Vieiras (Velhos) que dava trabalho a muita gente na terra, mas também havia pequenos e médios proprietários, que recorriam à Praça dos Homens para angariar mão-de-obra diária. Como testemunho destes tempos existe uma rua chamada “Escadinhas dos Cingeleiros”.
     
Bovinos no rio Almonda com lavadeiras por perto.
Mais tarde, começam a surgir os primeiros veículos motorizados, os ambitantes mais antigos ainda lembram que, os “Velhos” chegaram a ter vários tratores e as juntas de bois deixaram gradualmente a deixar de ser o braço direito do agricultor e passou-se apenas a fazer bois de engorda.

Mário Pereira foi trabalhador rural enquanto jovem, antes de trabalhar na Fábrica Fiação e Tecidos, lembra de quando por alguma razão, os carros de bois tinham de passar “pela vila” (Torres Novas), havia zonas onde havia filas com 15 a 20 carros de bois (nesta altura não havia carros com há hoje).
Palheiro dos Velhos aspeto atual

Testemunho "vivo do antigamente" é a ruina do “Palheiro dos Velhos”, que era palheiro mas também curral onde se abrigava e alimentava os bovinos. Para as gerações mais novas, o palheiro foi sempre um lugar onde ocasionalmente faziam umas brincadeiras, as características de um edifício com dimensões invulgarmente grandes e o estado de meia ruina, assim com as histórias que os mais velhos contavam, transformam o palheiro num local quase tão enigmático como as grutas.

Bois no meio do rio Almonda com a juventude de Lapas.

O palheiro tinha normalmente uma “taxa de ocupação” de entre 200 a 300 cabeças de gado, parte destes animais serviam no auxílio na agricultura, a outra parte eram animais para a engorda, alimentados com os restos do figo destilado, que mais tarde seguiam para matadouro. Para as gerações mais recentes que nunca viram um junta de bois a deambular calmamente pela aldeia, é estranho pensar que em Lapas, na primeira metade do século XX, era comum, manadas de bois entrarem rio a dentro para se refrescar e beber água, depois de um longo dia de trabalho. A escassos metros ao lado, as lavadeiras lavavam a roupa, como toda a vida fizeram e as crianças se banhavam alegremente, como se nada acontecesse.
Museu Agricola de Riachos: Parte da coleção
O Palheiro tinha dois andares, segundo testemunhas, o andar superior estava cheio de fardos de palha e numa trovoada em Junho (?), uma faísca que entrou por uma janela do piso superior e o incendio espalhou-se rapidamente por todo o palheiro. Pouco se podia fazer se não tentar salvar o máximo de animais possíveis. Porém, mais de metade do palheiro ardeu na totalidade e dezenas de animais morreram intoxicados e carbonizados.

Atualmente permanece as ruinas, onde ainda se vê as marcas do fogo. Para quem quiser saber mais sobre as juntas de bois, recomendo uma visita ao Museu Agrícola de Riachos, que possui um grande espólio etnográfico ligado a trabalho no campo e uma coleção muito interessante de vários carros de bois. É claro que temos que ter em atenção que apesar da proximidade, a realidade de Lapas era um pouco diferente da dos Riachos. O museu ainda possui as fotos mais antigas de Lapas do início do século XX.

Fontes:
Entrevistas áudio e conversas informais com: José Rosca, 79 anos antigo taberneiro, Mário Coelho Pereira 82 anos, José Conceição Marcos, 82 anos antigo trabalhado rural e Vítor Cartaxo. Visita e conversa informa com Carlos Amado do Museu Agrícola de Riachos.
Fotos antigas do artigo fazem parte do espólio do Museu Agrícola de Riachos.

2 comentários:

  1. em que mais concreto foi o ano do grande incendio no palheiro dos velhos

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