quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Joaquim Paiva - Arte e Ofício de Trabalhar a Madeira

Joaquim Paiva nasceu em Lapas 6 de Agosto de 1930, desde jovem começou a trabalhar no campo, depois trabalhou numa fundição e na Rodoviária. Casou-se, mas nunca teve filhos.
Obra: A Taberna (inspirada na antiga Taberda do Aspirante)

O trabalho da madeira começa como a maior parte dos artesãos de Lapas, depois de se reformar, porém Joaquim Paiva transformou um passatempo em algo mais sério, dedicando uma boa parte do final da sua vida aos seus bonecos de pau de figueira, árvore muito abundante nos campos de Lapas. Tudo começou como uma brincadeira, por vezes quando cortava as árvores de descobria que a própria natureza criava esculturas na madeira, onde via cães, cavalos... – lembra sua sobrinha Cristina Ruivo.

Tornou-se muito conhecido, começou nas Feiras dos Frutos Secos e Torres Novas, depois participou em eventos em todo o país, feiras e mostras culturais, dignificando a imagem de Lapas e do concelho de Torres Novas. A sua fama chegou bem além de Portugal continental, chegando a ter encomendas de obras do Japão, das ilhas e de Espanha.

Obra: Praça de Touros
Mesmo assim, na sua oficina, num "alto" na Banda Além, com uma bela vista privilegiada sobre o vale do rio Almonda e a zona histórica de Lapas, trabalhou sempre com um ritmo calmo e sereno, utilizando apenas peças de carpintaria tradicionais que ajudavam no trabalhar do macio pau de figueira. Com um espólio não muito vasto e com uma procura bastante apreciável, as suas obras ainda hoje são bastante valorizadas. A destacar, a Praça de Touros que apresenta um formato de uma praça de planta tradicionalmente redonda, com mais de 40 figuras, desde espectadores, a banda filarmónica, aos forcados. No centro, um cavaleiro e o touro circulam engenhosamente pela arena. Essa peça nunca foi vendida, porém um espanhol ofereceu entre 10.000 €, a resposta de Joaquim foi pronta “nem por 20.000€”. A taberna é outra obra de grande relevo, onde retrata um pouco do quotidiano de uma taberna de Lapas. Os pormenores são deliciosos, os homens vestidos com os trajes tradicionais, sempre de bigode, com um copo de vinho perto da mão, o cigarro na boca. Uns jogam uma “Sueca”, outros jogam a “malha” e sem deixar de lado a zona da retrete, o chão cheio de lixo, as pipas do vinho e os letreiros com indicações irónica “Amanhã fia-se hoje não”, ou “se veres que o vinho te prejudica o trabalho, deixa de trabalhar”, ou ainda os calendários eróticos que faziam as delícias dos clientes. Não podemos deixar de lembrar que a taberna teve muito peso no passado da aldeia e as pessoas próximas de Joaquim dizem que se inspirou na Taberna do Aspirante.

A temática da obra é vasta e variada, a religião tem um papel determinante, de resto era das peças mais vendidas, o Cristo na Cruz, a Santíssima Trindade, o Santo António, A Nossa Senhora, e fez variados Presépios. Passado para uma temática mais divertida e algo satírica e cómica como as várias peças que produziu do casal, Adão e Eva, cuja nudez tapada pelas folhas é algo evidenciada. Chegou a realizar peças que carater puramente cómico e sexual. Depois todo tipo conjunto de peças ligada ao quotidiano ribatejano e de Lapas, como as já citadas, o Praça de Touros e a Taberna, mas também, “Matança do porco”, a “Lavadeiras do Rio Almonda”, a “Apanha do Figo”, o “Lagar de Azeite”, o “Castelo de Torres Novas”, a “Debulhadora de tração animal” que foi doada à Junta de Freguesia de Lapas e a “Escola Primária” que foi dada pelo autor à Escola Primária de Lapas.     

Lembra Ramiro Duque, grande amigo de Joaquim Paiva, que de certa forma, pioneiro e o impulsionador que levou outras pessoas a iniciar-se nos trabalhos em madeira. Por vezes, falavam dos trabalhos e apresentava sugestões para os melhorar. Também havia por vezes uma certa rivalidade salutar, no que toca ao trabalho da madeira, entre Dionísio e Joaquim Paiva. 
Obra: Quinta do Figueiral (Apanha do Figo).

Joaquim Paiva faleceu aos 79 anos, no dia 14 de Abril de 2010, ainda hoje é um dos artesãos mais carismáticos do concelho de Torres Novas. No Posto de Turismo da cidade ainda existe exposto o “Caçador” e no Núcleo Museológico do Castelo estão expostas ainda várias peças de sua autoria, como o “Musico”, “Cristo na Cruz”... O "musico" provavelmente inspirados na banda da SMUT, onde fora também musico. Desde a sua morte, nem mais uma peça foi vendida, a grande parte do espólio encontra-se à guarda da Biblioteca e Museu Municipal, não se encontrando de momento acessível ao público.

Fontes:
SOARES, José Carlos. UpArt – Joaquim Paiva, Site acedido em 9 Mai. 2013.
Conversas informal com a sobrinha Cristina Paiva Ruivo e Ramiro Duque em 10 Mai. 2013.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Grupo Desportivo Juventude de Lapas - GDJL


Antiga sede do GDJL
O GDJL é uma coletividade de carater desportivo, recreativo e cultural, fundada em Maio de 1964, desenvolveu ao longo dos anos atividades desportivas como futebol, ginástica, natação, basquetebol, badminton, pesca, canoagem, tiro com arco.

Em termos históricos as atividades desportivas são anteriores a 1964, sabe-se existiu um campo de futebol que foi inaugurado em 24 de Julho de 1939, o Campo do João Venâncio. Nesta data, uma equipa de Lapas defrontou o Futebol Clube da Zibreira, com o campo repleto de centenas de espetadores, a equipa da casa venceu por 3-1. A festa da inauguração teve a presença musical da SMUT. Sabe-se também nos anos 50, existiu na aldeia uma equipa “Os Galitos” (carece de fontes).

Em Julho de 1965, surge um dos episódios mais caricatos da história do clube, o Campo de Peral é inaugurado, com a equipa da casa, o já então Grupo Desportivos Juventude de Lapas a defrontar e a vencer o Operário Meiaviense por 3-1. No dia seguinte, o proprietário do terreno decide transformar de novo o campo de futebol, num campo agrícola. A população fica incrédula a ver que o campo de futebol está completamente destruído e o clube cai numa crise diretiva.

GDJL Futebol Sénior
Temporada
Campeonato Distrital[1]
Classificação
1993/94
1ª Divisão

1992/93
2ª Divisão - Série A

1991/92
1ª Divisão

1990/91
2ª Divisão - Série A

1989/90
2ª Divisão - Série A

1988/89
2ª Divisão - Série A

1987/88
2ª Divisão - Série A

1986/87
1ª Divisão 

1985/86
2ª Divisão - Zona Centro
Campeão
1984/85
2ª Divisão - Zona Centro

1983/84
2ª Divisão - Zona Centro

1982/83
2ª Divisão - Zona Centro

1981/82
2ª Divisão - Série A
14º[2]
Em 1979, é criada uma comissão diretiva, com o clube a voltar ao ativo, tendo como atividade única o futebol sénior, apresentando uma equipa composta por 30 atletas e 160 sócios. O clube é inscrito na então Associação de Futebol de Santarém (?) e inicia a participação no Campeonato Distrital de 2ª Divisão na temporada de 1981/1982. Na temporada de 1985/86, vence o Campeonato[3] e na temporada seguinte, 1986/87, participa pela primeira vez, na 1ª Divisão Distrital. Os anos 80 são coroados ainda com dois importantes acontecimentos, a 18 de Agosto de 1985, com a inauguração do “Campo da Cabrita”, que teve o jogo inaugural o dérbi que colocou, frente a frente, a equipa de Grupo Desportivo Juventude de Lapas e o Clube Desportivo de Torres Novas. A equipa visitante venceu por 0-1 com um golo solitário de Cunha obtido num contra ataque pouco tempo antes do intervalo. Pela equipa da casa jogou Manuel Maria (Capela), Paulo Faria, (Baía), João Luís, Zé Luís, Carlos Monteiro (Jaime Aguiar), Alexandre Duarte, Paulo Monteiro (cap.), Jorge Ruivo, Joaquim Pedro, Vítor Duarte, Zé Luís Sousa, Lúcio, Sardinha, Fernando Piranga, Maurício (V. Duarte)[4]; e em 27 de Janeiro de 1988, é atribuído o título de Instituição de Utilidade Pública. E ainda em 1982, é integrado no GDJL o Movimento de Ginástica Infantil de Lapas – MOGIL[5].

Em 13 temporadas, entre 1981 e 1994, o futebol sénior do GDJL, consegui 3 presenças na Divisão Principal, onde ombreou com as melhores equipas do distrito como o Torres Novas, Tramagal, Rio Maior, e 10 presenças na 2ª Divisão Distrital, conseguindo nesta divisão um título de campeão.

Campo de Jogos inaugurado em 1985
Em 1996 mesmo sem futebol sénior, o clube constava com 748 sócios, que significava que cerca de 52% da população residente na freguesia era sócia da instituição, claro que nem todos os sócios habitavam em Lapas, mas esses números revelam a relação e importância que o clube mantinha com a população. Como comprova o Plano de Atividade de 1996, a atividade não se limitava apenas ao desporto, estando focado em três áreas: Atividades desportivas com Educação Física para escolas do 1º Ciclo do Ensino Básico, futebol, basquetebol, badminton, ginástica infantil e pesca, organização de Torneio Abertos e Campos de Férias; Atividades recreativas com cicloturismo, gincanas, BTT, Jogos Tradicionais, Xadrez, Carros de Ladeira, Tiro aos Pratos; e Atividades culturais com Teatro, Marchas Populares, Noites de Fados, os pauliteiros” e eventos históricos ligados á tradição da aldeia como o “Julgamento do Bacalhau”, e “Os reis”.

Entre 1998 e 2002, o clube teve uma secção de Tiro com Arco conseguindo de atletas individuais resultados brilhantes tendo vários primeiros lugares a níveis nacionais, europeus e mundiais.

Fontes:
História do G. D. Juventude de Lapas e Plano de Atividades 1996/97 – Cedido por Eurico Vieira.
http://teamtarget.no.sapo.pt/ Site do Team Target – Tiro com Arco, acedido em 7 mai. 2013.

[1] http://futeboltotal-victor.blogspot.pt/ Blog: Futebol Total, acedido em 7 mai. 2013.
[2] O Almonda, Torres Novas, 18 Jul. 1982
[3] http://afsantarem.fpf.pt/Competições/Histórico.aspx Histórico de Competições do site da Associação de Futebol de Santarém acedido em 7 Mai. 2013.
[4] CANAIS, Rocha. Juventude de Lapas esteve em festa na inauguração do seu campo de futebol! O Almonda, Torres Novas, 23 Ago. 1985, p. 9 e 11.
[5] Almonda, Torres Novas, 30 Abr. 1982, p.9.

Agrupamento 1272 - Lapas

O Agrupamento 1272 de Lapas foi fundado em 2004, faz parte do Corpo Nacional de Escutas (CNE) é uma associação juvenil de Escutismo Católico, sem fins lucrativos, destinada à formação jovens tendo como base o método criado pelo fundador do escutismo mundial, o britânico, Robert Baden-Powell (BP). O agrupamento de Lapas tem como padroeira a Nª Senhora da Graça.

O grupo desenvolve atividades variadas com jovens com idades compreendidas dos 6 aos 21 anos, divididos em faixas etárias em 4 secções, Lobitos, Exploradores, Pioneiros e Caminheiros. O objetivo final da instituição será sempre a formação de pessoas, com papel ativo e participativo na sociedade, segundo a doutrina católica e o método de escutista de BP…

(…) a melhor maneira de obter felicidade é proporcionar felicidade à outras pessoas. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram (…) - excerto da última mensagem de Robert Baden-Powell.

Nos primeiros anos, o agrupamento assentou a sede, na antiga Sala de Convívio, por de baixo do Salão Paroquial (ao lado da sede dos Avós e Netos). Desde 2007, o grupo tem investido com vista à criação de uma nova sede e do Parque Escutista do Mouchão que, logo que terá concluído terá um espaço com 3000m2 com capacidade de acampar mais de 200 pessoas. Atualmente, o Parque já tem à disposição uma torre destinada a atividade de manobras de cordas (escalada e rappel), uma sala de formação e balneários. Como disse, o antigo chefe de grupo, um dos pioneiros do projeto, Joaquim Rafael, “o parque do Mouchão é um campo para atividades escutistas, mas também aberto à comunidade”. O parque está bastante bem localizado a escassas centenas de metros do rio Almonda, que pode possibilitar a prática de atividade náuticas e pesca. A ser bem aproveitado pode ser uma forma de chamar mais pessoas a conhecer a povoação.

Em Janeiro de 2013, a Junta Regional de Santarém do CNE, realizou um Encontro Regional de Pioneiros em Lapas, onde utilizou como base o Parque Escutista do Mouchão, as atividades decorreram tento como cenário, o rio, as grutas, a aldeia.

Fontes:
RAMOS, Célia. Os escuteiros de Lapas já têm balneários, Jornal O Almonda, Torres Novas, 14 jun. 2012;
LOPES, Joaquim. Escuteiros de Lapas vão ter nova sede e campo de atividades. Jornal “O Almonda”, Torres Novas, 13 jul. 2007
I.V. Escuteiros de Lapas inauguram torre de vigia, Jornal. “O Torrejano”, Torres Novas, 22 jun. 2010;
Corpo Nacional de Escutas – Remodelação Total dos Estatutos. Diário de Republica – III Série nº 156 9-07-1992
CNE Santarém, http://santarem.cne-escutismo.pt, acedido a 17 abr. 2013.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Taberna do Aspirante


A Taberna o Aspirante foi reaberta em 30 de Outubro de 2005[1], com o objetivo de se tornar o “Edifício da Cultura” de Lapas. O edifício fora adquirido pela Junta de Freguesia de Lapas com vista a criar um espaço que permitisse, por um lado, os cidadãos terem acesso às novas tecnologias da informação e por outro, um espaço para servir de apoio à cultura.

Disse reaberto, pois, antes, algures no passado, do edifício fazia parte, a Taberna do Aspirante e a Taberna do Índio (a escassos metros a baixo, noutro edifício havia a Taberna do Amândio) (Ver: Taberna de Lapas). Era uma das zonas da aldeia ricas em taberna e como relembrou Olímpio Repolho num artigo escrito para o jornal “O Almonda” de 4 nov. 2005, “a taberna do José Aspirante era das mais típicas e procuradas pelos homens do campo, que nesse tempo eram a maioria (…) pelo acolhimento, bom vinho acompanhado pelas torradas e apetitosas pevides preparadas pela D. Olinda do Céu”. A Taberna marcou um Tempo e faz parte da nossa história e cultura, por essa razão o nome escolhido para um espaço moderno acaba por ser uma justa homenagem à importância da Taberna na vida do quotidiano dos nossos antepassados. Para além disso, como no passado, esta "moderna taberna" iria servir como ponto de encontro entre as pessoas da aldeia.

O espaço foi reabilitado e atualmente possui dois pisos, rés-do-chão tem um auditório multifunções com capacidade para 50 lugares sentados, onde regularmente se realiza as reuniões da Assembleia de Freguesias de Lapas e possui condições para a organização eventos, tais como, debates, palestras, apresentações de livros, secções de cinema, exposições pintura e fotografia, etc. O piso superior, possuí uma Sala de Informática com Internet wi-fi, uma sala de estudo, um local para uma pequena biblioteca e ludoteca.

Neste espaço, a Junta Freguesia realiza com regularidade cursos de Informática para combate à Infoexclusão e outras formações destinadas aos cidadãos. No espaço do auditório já se realizaram apresentações de livros principalmente de autores nascidos na aldeia, secções de esclarecimentos, concertos, secções de poesia e musica e atividades temáticas da Escola Primária de Lapas.


[1] REPOLHO, Olímpio. Taberna do Aspirante, um espaço muito digno, O Almonda, 4 Nov. 2005

quinta-feira, 25 de abril de 2013

António da Laura – Arte e Ofícios de Trabalhar a Madeira

António Coelho Cambé, mais conhecido como “António da Laura” nasceu nas Lapas numa família pobre e humilde no ano de 1929, logo muito cedo começou a trabalhar na agricultura, onde foi boieiro desde os 10 anos.
O boieiro de Lapas com seu carro de bois

Anos mais tarde, na entrada da idade adulta, começa a trabalhar na fundição da Casa Nery, até ser obrigado a reformar-se devido a problemas de saúde. Depois disso é que começou a trabalhar a madeira para ocupar o tempo livre, mas nunca teve nenhuma experiência profissional ligado ao trabalhar a madeira.

A sua obra aborda temas relacionados com a cultura, a história, o folclore de Lapas com grande ligação ao trabalho no campo, juntas de Bois, charruecos, charruas, grade, carro de bois, galeras, carroças, mulas, burros, pequenos utensílios para trabalhar no campo (enxada, foice roçadora, ancinho, forquilha, pá, machados, serras e serrotes). Uma réplica de um lagar de azeite, outra de uma destilaria de água-ardente. Também tem um interessante conjunto de instrumentos musicais, não tivesse sido António da Laura músico da SMUT.
O tradicional Lagar de Azeite

Ofereceu muitas peças a familiares e amigos e ainda vendeu algumas carroças e uns carros de bois… Chegou a expor as peças em escolas e foi convidado a participar em feiras em Torres Novas.

António Coelho Cambé faleceu aos 76 anos no ano 2006.

Fontes:
Entrevista áudio com Noémia Repolho, viúva de António Coelho Cambé.