A nascente do Rio Almonda tem
grande influência das águas pluviais da Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros,
na zona montanhosa as águas são filtradas pela rocha calcária entrando num
labirinto de galerias subterrâneas até nascer a céus aberto junto à base do
Arrife da Serra de Aire na povoação de Almonda, depois passa nas proximidades
das povoações de Casais Martanes, Casal de Pinheira, Ribeira, Lapas, Torres
Novas, Riachos, atravessa bem no coração da Reserva Natural do Paul do
Boquilobo, passa perto da aldeia da Azinhaga, e finalmente, se encontra
com rio
Tejo.
O rio é a génese do povoado de
Lapas, a povoação cresceu bem nas margens do rio, em 1935, uma necrópole neolítica foi descoberta nas margens do rio (entre a Ladeira do Carreiro
e a Fábrica do Álcool), este fato atenta que já a alguns milénios esta zona era
habitada. O rio foi sempre fundamental para a agricultura, a pesca, posteriormente,
com a industrialização, fábricas foram construídas nas suas proximidades. Por
exemplo, o atualmente inativo Lagar de
Azeite, a Fábrica do Álcool
e da antiga destilaria, que
tem vindo a ser reabilitada como sede da Banda Filarmónica (SMUT). Geração
após geração, a mocidade usufrui de banhos no rio nos Verões, onde muitos
aprendem a nadar. Os mais idosos procuram as margens do rio para descansar e
conviver. Regularmente, existem concursos de pesca, atividades aquáticas de
variadas instituições. Durante todo o ano, o rio mantem um “espelho de água”, onde se pode fazer
passeios de barco ou canoa.
Açude e Moinho de Baixo |
O espelho de água é mantido à
custa do controlo do caudal pelos açudes e moinhos de água. Por regra, onde
existe um açude, existe um moinho. Para quem não sabe, o açude é uma espécie de
pequena barragem que serve para desviar a água para o moinho, onde a passagem
da água é transformada em energia hidráulica. Os açudes e moinhos são bem patrimoniais,
que estão esquecidos e que podem ter grande potencialidade. Em Torres Novas, não conheço um moinho aberto ao público que
possa mostrar o fabrico da farinha e a profissão de moleiro. Os dois
moinhos existentes no centro da aldeia de Lapas são o Moinho da Lameira e o Moinho
de Baixo, o espaço que o rio percorre entre os dois é a parte que pode ser visitada
e a que apresenta melhores condições para a prática de atividades náuticas. O Moinho
da Lameira infelizmente encontra-se atualmente em ruínas. O Moinho
de Baixo tem um estado aceitável de conservação, apresenta um espólio
muito interessante ligado à profissão de moleiro e tem a capacidade para produção
de farinha na maneira tradicional. Curiosamente, este moinho é o responsável
pelo controlo do caudal e do espelho de água da parte visitável do rio em Lapas.
O rio é bastante procurado por pescadores |
Entre a Ribeira e as Lapas existe
as ruinas do Moinho de Pego, um local abandonado com uma beleza paisagística
natural fabulosa, onde a natureza parece reclamar e apropriar-se do local que
outrora fora um moinho. O estado de ruina torna qualquer tentativa visita muito
perigosa. Um pouco mais a baixo, próximo do Alto
da Nossa Senhora da Vitória, sem qualquer tipo de acessibilidade,
existe o Moinho de Pau. Este é o
único moinho na zona de Lapas que não tem açude. Pelas dificuldades de me
aproximar do moinho, não sei qual o estado de conservação, mas dado os
testemunhos de vizinhos parece que está em ruínas.
Nos Pimenteís existia um complexo de três moinhos estavam ligados por uma pequena e estreita
ponte de pedra, o local era conhecido por Moinhos dos Pimenteís. A ponte que
se dizia ser de origem romana (algo
duvidoso e que carece de fontes), segundo se consta desapareceu com uma
violenta cheia, eram normal em tempos de cheias as águas galgarem a ponte. Dos dois moinhos que se encontram na margem
mais próxima do Bairro da Cabrita,
um deles está em estado de ruína. O
outro da margem oposta foi transformado numa habitação particular e penso que
mantem uma ligação a uma coudelaria.
Todos os moinhos são particulares
e o acesso é difícil, na década de 90, grande parte ainda funcionava e podiam
ser visitados.
Ainda hoje, os açudes regulam o
nível da cota da água em várias zonas do rio, mas a profissão de moleiro
desapareceu, os moinhos deixaram de trabalhar, uns entraram em decadência ou
ruína, outros foram reabilitados com outras funções… O que é impressionante, é
a forma como uma profissão extinta ainda influência tanto o rio. O bonito rio
que vemos deve-se muito aos moleiros.
Açude e Moinho da Lameira |
Uma curiosidade conhecida por
poucos é que existe uma ligação muito próxima entre o rio e as grutas (100/200
metros). Paralelo a isso, existe uma “lenda” recente que diz que “Arca da Aliança” finda de Toledo via rio
Tejo, subiu o rio Almonda e foi escondida nas grutas (história de autor desconhecido, que carece de fontes).
Bibliografia/ Fontes:
Carta Arqueológica de Torres Novas (versão PDF)
Conversa informal com o senhor Leal (dono do Moinho de Baixo).
Moradores próximos do Moinho de Pau.
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