A 1 de Fevereiro de 1893 era
inaugurado na sua plenitude o Caminho de
Ferro Torres Novas a Alcanena, tinha a extensão de 20 km, 8 estações e
apenas um comboio que se deslocava numa via única que assentava em cima da
estrada. Desta forma lado a lado, podia haver um comboio e um carro de bois,
paralelamente havia ainda uma linha de telégrafo e telefone. Na época a linha
férrea apresentava grande importância para as populações, a agricultura, a indústria
e o comércio.
O seu percurso tinha início junto
à ligação à Linha do Norte, na zona
dos Riachos, passava pelos Riachos, Torres Novas, Lapas (Alto da Nossa Senhora
da Vitória), Ribeira Branca, Zibreira, Goucharia e terminava em Alcanena. Como
havia apenas um comboio, quando chegava a Alcanena recomeçava o trajeto no
sentido inverso.
A estação da Bela Vista ou da Nossa
Senhora da Vitória servia diretamente as Lapas. Ao longo da atual estrada
que liga Torres Novas (Igreja de S. Pedro), Bairro da Cabrita, até chegar à
Ribeira, havia a linha do comboio. Curiosamente, a rua que liga Torres Novas ao
Alto de Nossa Senhora da Vitória se chama “Rua
do Comboio Menino”, ao percorrermos esta estrada não é difícil imaginar que
de um dos lados já passou um comboio.
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Local da antiga estação no Alto da N. Senhora da Vitória |
O comboio teve vida muito curta, pequenos
acidentes e descarrilamentos constantes contribuíram para um fim prematuro, por
volta de 1894/1895. A “Rata Cega” ou
“Comboio Menino”, como era conhecido
o comboio, tinha a fama de descarrilar frequentemente, incendiar os campos
agrícolas, de ser tão lento que as pessoas conseguiam entrar e sair facilmente
com a locomotiva em andamento e por vezes, ter de recorrer ao auxílio de bois
para ajudar a locomotiva a puxar os vagões e as carruagens.
Outros fatores como, má
construção, má gestão, desinvestimento e a crise de 1890 podem ter contribuído
para o fim. O comboio e demais material circulante foram vendidos ao Caminho de
Ferro de Porto à Lixa, os rails permaneceram no local até serem vendidos para
sucata em 1896.
Atualmente pouco resta do
caminho-de-ferro, em Torres Novas, o marco mais significativo encontra-se nas ruas Almirante dos Reis e Serpa Pinto,
ao longo da estrada calcetada duas barras de metal lembrando os rails servem
como memorial ao Caminho-de-Ferro Torres Novas a Alcanena e à Rata Cega. Em Lapas, para além do nome de uma rua,
pensa-se que o edifício da estação da Bela Vista ainda existe, mas entretanto
foi reabilitado como casa de habitação. Segundo, o senhor Vítor Cartaxo que
nasceu por volta da década de 30 (sécXX), “aquele
local foi em tempos uma taberna” e lembra-se de ter lá visto “umas coisas pretas” que pensava ser o
carvão da locomotiva.
Outros textos na net:
Linha Torres Novas a Alcanena
http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Caminhos_de_Ferro_de_Torres_Novas_a_Alcanena
Fontes:
GONÇALVES, Artur, (1937), Memória
de Torres Novas, Companhia Editora do Minho, Barcelos.
FERREIRA, João, artigo “A Rata Cega”, (1981) Nova Augusta Nº1 Serie II, Torres Novas
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