quinta-feira, 28 de março de 2013

Estação da Bela Vista

A 1 de Fevereiro de 1893 era inaugurado na sua plenitude o Caminho de Ferro Torres Novas a Alcanena, tinha a extensão de 20 km, 8 estações e apenas um comboio que se deslocava numa via única que assentava em cima da estrada. Desta forma lado a lado, podia haver um comboio e um carro de bois, paralelamente havia ainda uma linha de telégrafo e telefone. Na época a linha férrea apresentava grande importância para as populações, a agricultura, a indústria e o comércio.

O seu percurso tinha início junto à ligação à Linha do Norte, na zona dos Riachos, passava pelos Riachos, Torres Novas, Lapas (Alto da Nossa Senhora da Vitória), Ribeira Branca, Zibreira, Goucharia e terminava em Alcanena. Como havia apenas um comboio, quando chegava a Alcanena recomeçava o trajeto no sentido inverso.

A estação da Bela Vista ou da Nossa Senhora da Vitória servia diretamente as Lapas. Ao longo da atual estrada que liga Torres Novas (Igreja de S. Pedro), Bairro da Cabrita, até chegar à Ribeira, havia a linha do comboio. Curiosamente, a rua que liga Torres Novas ao Alto de Nossa Senhora da Vitória se chama “Rua do Comboio Menino”, ao percorrermos esta estrada não é difícil imaginar que de um dos lados já passou um comboio.

Local da antiga estação no Alto da N. Senhora da Vitória
Alguns habitantes mais antigos, mesmo nascidos três e quatro décadas depois do desaparecimento do comboio, ainda se lembram de ter ouvido falar do comboio.

O comboio teve vida muito curta, pequenos acidentes e descarrilamentos constantes contribuíram para um fim prematuro, por volta de 1894/1895. A “Rata Cega” ou “Comboio Menino”, como era conhecido o comboio, tinha a fama de descarrilar frequentemente, incendiar os campos agrícolas, de ser tão lento que as pessoas conseguiam entrar e sair facilmente com a locomotiva em andamento e por vezes, ter de recorrer ao auxílio de bois para ajudar a locomotiva a puxar os vagões e as carruagens.

Outros fatores como, má construção, má gestão, desinvestimento e a crise de 1890 podem ter contribuído para o fim. O comboio e demais material circulante foram vendidos ao Caminho de Ferro de Porto à Lixa, os rails permaneceram no local até serem vendidos para sucata em 1896.

Atualmente pouco resta do caminho-de-ferro, em Torres Novas, o marco mais significativo encontra-se nas ruas Almirante dos Reis e Serpa Pinto, ao longo da estrada calcetada duas barras de metal lembrando os rails servem como memorial ao Caminho-de-Ferro Torres Novas a Alcanena e à Rata Cega. Em Lapas, para além do nome de uma rua, pensa-se que o edifício da estação da Bela Vista ainda existe, mas entretanto foi reabilitado como casa de habitação. Segundo, o senhor Vítor Cartaxo que nasceu por volta da década de 30 (sécXX), “aquele local foi em tempos uma taberna” e lembra-se de ter lá visto “umas coisas pretas” que pensava ser o carvão da locomotiva.

Outros textos na net:
Linha Torres Novas a Alcanena
http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Caminhos_de_Ferro_de_Torres_Novas_a_Alcanena

Fontes:
GONÇALVES, Artur, (1937), Memória de Torres Novas, Companhia Editora do Minho, Barcelos.
FERREIRA, João, artigo “A Rata Cega”, (1981) Nova Augusta Nº1 Serie II, Torres Novas

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